27.6.06

O que é língua?

  1. O que é língua?

A língua é um sistema de signos. É a forma humana e social de comunicar idéias através de um todo organizado de diferenças. Esse todo organizado é, por sua vez, um sistema abstrato de distinções, abstrato posto que os significantes lingüísticos e mesmo os significados não existem na coisa em-si e de distinções posto que só sabemos que algo é uma coisa porque não é outra. A língua é constituída arbitrariamente por convenções sociais e, portanto, tem origem difusa e coletiva. Também se encontra ao nível da potencialidade, posto ser uma faculdade que ultrapassa a execução efetiva no ato comunicativo, o que possibilita as transformações históricas da língua. Enquanto fato social, a língua não está em nós, mas entre nós, o que pode ser exemplificado no fato, sensorialmente falando, de que o processo da pessoa x falar é distinto do processo da pessoa y ouvir. Contudo, a língua é mais do que uma forma de comunicação e, mais significativamente, enquanto tal é falha, pois gera o dissenso interpretativo. A língua configura o mundo, constrói o real. Aqui podemos recorrer ao auxílio de Wittgenstein, para quem o limite de nossa racionalidade é o limite do nosso alcance lingüístico.

Isto foi o que eu respondi ao meu professor de Antropologia Simbólica. Fiquei chocado quando uma mamãe explicou ao pequeno filho que língua era o que ele usava para chupar pirulito.

16.6.06

Manifesto por uma nova Sociologia


É cedo para se tecer uma crítica à vida, mas já me preparo para a missão metafísica com a qual me honrou a existência. Preparo-me, pois sou cônscio da grandeza da tarefa. Uma nova sociologia desponta dentre a celeuma de neurônios que jaz em meu espaço cranial: a Sociologia da Vida. Basta de Sociologia dos moradores do subúrbio ferroviário, sociologia dos vendedores ambulantes, sociologia dos empresários calçadistas, sociologia do circo picolino... Basta de sociologia marxista, weberiana, durkheimiana... Quero a Sociologia da Vida! Nesta nova subdivisão especializada da ciência social encontrarão ocaso todas as especializações e subdivisões. É hora do Uno além do bem e do mal, do reencontro dos saberes em vista do surgimento do novo ser desalienado de si mesmo através do conhecimento de sua realidade estrutural circundante e de sua potencialidade criativa. A Sociologia da Vida é intrinsecamente subversiva, posto que destrói mitos oriundos da mediocridade e da alienação especializada (especialização alienada?). A Sociologia da Vida desmascara sociólogos diplomados doutores e grão-vizires (my final bow) que sabem analisar a micro-estrutura de um terreiro de candomblé, mas não sabem porque este se encontra inadvertidamente em um bairro periférico. "Me desculpem, é que minha especialidade não é esta..." A Sociologia da Vida é o macro e o micro, é um e outro, a afirmação e a negação, pois é um Tudo-histórico e contextualizado, donde se tiram conclusões a-históricas e metafísicas socialmente construídas. Não se trata de um retorno às grandes teorias sociológicas holísticas e teleológicas, mas de uma tentativa de início de um ponto final à mediocridade que assola nossa contemporaneidade. É a introdução da poética na Academia. É a introdução do vivo na sociologia, onde o não-vivo sempre reinou triunfal. É a construção de uma imagem dinâmica e artística em folhas de papel. A contemporaneidade massacra com sua petulância arrogante e repulsivamente fétida. A Sociologia da Vida não altera a situação social, mas como um Dom Quixote pós-moderno nos mostra que ainda há luta, mesmo que, por enquanto, não haja vitória...

15.6.06

Carta do Cravo

Sim, minha Pétala querida, a noite é longa.

Mas nela dormimos e descansamos do mal acumulado do viver dias um após o outro, distanciando-nos dos sonhos sonhados.

A noite é longa, mas mais longa é a vida inexorável.

Nesta vida autoritária e que não nos dá a opção efêmera do não-viver, resta-nos viver, e só bem adiante o não-viver absoluto e eterno.

Neste viver antes do não-viver final, desejo algum dia te fazer companhia uma noite longa adentro.

Apenas eu e você, cercados pela noite e pela Vida.