3.12.07

Depois do fim da história - o retorno do extemporâneo

Alguns dias a mais de um ano atrás eu postei pela última vez neste blog. Àquela altura, eu não sabia que seria o último post. Mas os ciclos são assim mesmo: completam-se e pronto! Só depois de muito tempo a gente percebe que era um ciclo, um período, uma etapa ou uma fase (como queiram chamar).
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E é engraçado isso de ser jovem. Pessoas de 34, 42 ou 51 anos não diferem muito uma da outra. Mas uma de 22 é radicalmente diferente de uma de 18, por exemplo. Alguns casos são extremos, como o meu. A cada ano sou completamente outro.
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Até meados de 2005 eu era militante da União da Juventude Socialista. Falava sobre política, Lula e revolução comunista e tinha poucos amigos além do grupo do qual fazia parte. Alguns dos que hoje são meus melhores amigos me detestavam na época e outros que eram meus amigos hoje me detestam. Por diversos motivos, saí da organização.
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Aí caí no niilismo e pessimismo. Foi a fase das músicas melancólicas, leituras de Nietzsche, Schopenhauer, Sartre, Fernando Pessoa etc (não gostava muito deles por serem demasiado otimistas). Foi a fase da Companhia do Subterrâneo (grupo de seis ratos para escrever sobre a vileza da existência em um blog e discutir literatura em reuniões regadas a vinho). Esta foi sem dúvida a fase do parto de um novo homem e doeu como qualquer parto sem anestesias. Nesta fase cresci espiritualmente e compreendi perfeitamente o que Nietzsche quis dizer quando disse que a negação total é o passo fundamental para a afirmação do Übermunsch (a afirmação do além-do-homem).
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A partida de dois membros para um intercâmbio nos EUA desmantelou o grupo. Os remanescentes se juntaram à um punhado de calouros do curso de Ciências Sociais da UFBA e montaram uma chapa totalmente diferente para o Centro Acadêmico (depois falo mais sobre isso). Foi o reinício do meu ciclo político, mas agora de forma, repito, totalmente diferente. Nada de revolução ou socialismo, mas sim de uma grandiosa (não em número) experiência coletiva para contestar a base primeira da política tal como ela se dá hoje. Foi experimental e obviamente foi suprimida pela força do hábito e da repetição monótona do que é. Mas o que importa não é o resultado imediato da afirmação, mas a simples existência desta. Além do mais, como (mais uma vez recorro a ele) dizia Nietzsche, talvez o fato de haver resultado ateste mais a mediocridade do projeto (a arte é inútil, dizia Oscar Wilde). Alguns dias atrás o grupo perdeu a (re)eleição para o C.A. Deixei alguns amigos e uma porção de "inimigos" (as aspas cabem porque eles me odeiam enquanto indivíduo, mas eu apenas os reconheço enquanto massa; não tenho um único inimigo decente para brincar de guerra com ele).
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Por outro lado, este ano também foi o ano do crescimento acadêmico e intelectual (sinto-me mais familiarizado com a eterna e infinita busca por compreender esta coisa chamada existência). Fui premiado, participei de congressos, dei aulas, escrevi artigos, defendi a monografia. E me formei, de beca e tudo. Outro ciclo fechado.
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Também este ano me encontrei no amor. Nada mais daqueles vai-e-vém angustiantes, mas sim o descanso certo no colo de quem se ama. E quem muito sofreu no amor (e todo poeta tem que sofrer nele para escrever boas poesias) sabe como é bom ser feliz com ele.
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Assim, hoje fecho o primeiro círculo completo do meu eterno retorno. E volto a este blog (bem como ao outro blog no qual expresso opiniões sobre fatos vulgares e políticos; este é mais voltado para as questões existenciais). Agora mais maduro. Menos determinista (seja através do marxismo ou da heterodoxia ortodoxa da crítica niilista e pessimista radical). Mais ambíguo e por isso mais rico e profundo. Mas mantive a arrogância e o jeito fulminante de expor minhas idéias. Espero que gostem. E se não gostarem, bem, aí é problema de vocês.