12.1.08
3.12.07
Depois do fim da história - o retorno do extemporâneo
25.11.06
Canção do ser impossivelmente enamorado
Vejo-me impelido a sair da letargia auto-imposta
E a pôr-me em movimento
Pluri-direcional
Qualquer-direcional
A direção não importa
Em passos imaginados
Chego-me à porta da rua
Mas já não há rua alguma
Está tudo mudado desde a última vez
Em uma noite eterna tudo aconteceu
E a noite eterna foi apenas um instante
Procuro, desesperado, exasperado, esfacelado
Como criança assustada em quarto escuro
O colo de uma fada impossível
E, de qualquer forma, ao alcance das mãos trêmulas
Mãos que abraçam o mundo inteiro
Mas que são já incapazes de sentir a rua defronte
E eis que surge a possibilidade final (fatal?) da louca fuga
E vejo-me, então, a correr pelo cais do porto
Local caquético como minh’alma, degradante e degradada
Mas que, inconsciente, remete-me pr’além-mar
E sob efeito de tantas drogas não-experimentadas
Sento e sinto-me só
E calado regozijo-me com a dor cortante
Que, contudo, livra-me momentaneamente da tristeza
E os pombos que arrulham ao meu lado
São-me indiferentes como pedras
O porto segue sua vida nati-morta
Eu sigo a girar o mundo inteiro
Chega, então, a noite com seu pesar
E meu corpo solicita descanso biológico
A fadiga do dia me faz deitar
Na cama da qual há muito me não levanto
E na alucinação febril me não espanto
Com a fada graciosa que me vem velar
No sono profundo, vencido pelo corpo físico (tísico?), enfim sinto o alívio
E purificado me encontro com o eu que reprimo há tanto tempo
E na solidão absoluta de minha própria ausência
Em prantos reencontro Deus, o não-ser por excelência
E a fada, que com pena me velava,
Pela janela sai e vai-se embora
17.11.06
Sempre amores. Jamais amor.
15.11.06
Eu e a pedra
Lá está a pedra
Melhor que eu, que cá estou
Séculos a admiram
Eu apenas anos
Ela ascende
Eu quebranto
Melhor ser pedra
Que ser eu
12.11.06
Consolação
Aí a gente sente a dor
E deixa de sentir tristeza
4.11.06
Muitos fins e muitos recomeços...
Fim de tarde. Fim de semana. Fim de feriado. São muitos fins e muitos recomeços em um ciclo doentio chamado vida.
Ao regressarmos de momentos lúdicos típicos de feriado (praia, piscina, churrasco, cerveja, mulheres, música, almoços etc) e chegarmos em casa, sentimos todo o cansaço acumulado e a vontade imensa de um banho e um breve e necessário cochilo. No entanto, se analisarmos a situação com mais calma, perceberemos que é algo mais do que cansaço o que sentimos: é o vazio. Depois de bons momentos de euforia e de relações tácteis com amigos e parceiros(as), regressamos para onde estamos sós. Ao nos encontrarmos a sós no quarto percebemos a própria solidão. Desejamos inconscientemente a permanência das boas sensações vividas há pouco, mas nos é impossível: resta-nos lembranças. Fica o vazio.
Os momentos de alegria e regozijo nos são raros. Logo retornamos ao cotidiano-regra: repetitivo, automático, solitário, enfadonho, triste. E é por isso que o fim do feriado é sempre sentido com melancolia. Não há melancolia maior que o pôr-do-sol que encerra o feriadão.
Esse é um momento que se repete na vida dos homens modernos. O cristianismo, enquanto religião, ou seja, como discurso ordenador da ordem simbólica do mundo, nos responde a essa situação de maneira completamente satisfatória, posto que absoluta: os prazeres da carne não satisfazem a sede espiritual. E, posto ser o espírito o que realmente importa, depois de lambuzar-nos no mundo pagão, sentimos a solidão interior – a ausência do Absoluto em nós: Cristo. É preciso, então, buscar o alimento espiritual, que nos remeterá a uma ordem transcendente – o reino dos céus.
Se pegarmos a explicação cristã e substituirmos Cristo pelo projeto existencial que mantemos, temos uma boa hipótese filosófica. Assim, aproveitamos o estar junto com outros para nos livramos de nosso próprio ser. Findo o contato, encontramo-nos a sós novamente com nossa própria liberdade. E aí não sabemos mais o que fazer; não sabemos se realmente curtimos o que curtimos ou se tão-somente lamentamos o encerramento do prazer vivido. O fato é que a melancolia (ou uma leve depressão) reina após o prazer. Talvez nos falte o transcendente. Mas a transcendência que se encontra não em uma outra realidade, mas no mundo da vida. A transcendência que se encontra em nós, naquilo que projetamos ser em um mundo hostil a espíritos sensíveis. Falta-nos estética.
Quando alcançarmos esse nível de auto-projeção, então os momentos pós-contato serão momentos extremamente estéticos; não mais aflição vazia – o Cristo pagão (Dioniso) terá sido alcançado. Da aflição e da angústia é impossível libertar-se, mas é possível, a partir delas, escrever belas poesias.