24.3.06

Depois da luta vem a luta!


Depois de cerca de três anos de militância política, fui surpreendido por uma visão ainda mais profunda da realidade, somando-se a isso a desprezível experiência do governo Lula. Esses fatos fizeram-me distanciar do esquerdismo político tradicional. Mas uma vez consciente, a consciência persegue ad infinitum. Não é possível voltar ao estado disforme da massa, muitas vezes mais desejável do que a consciência que nos afasta de prazeres típicos da não-consciência. No máximo podemos esconder nossa consciência atrás de um inconsciente artificial, projetado para este fim e sobre o qual tentamos construir um novo consciente. Mas quando menos esperamos o antigo consciente nos dá uma mordida.
Apesar da manutenção involuntária da consciência é-me difícil enxergar alternativas políticas coletivas na atual configuração social. E aqui uso a ajuda de Nietzsche, para o qual todo empreendimento social é feito "do esterco sujo", ou seja, dos homens.
No entanto fiquei pensativo com a história do grupo Facção Exército Vermelho (Baader-Meinhof ou RAF), na Alemanha dos anos 70 e 80. "Quem não luta morre a prazo" é a expressão do pensamento dos integrantes deste grupo guerrilheiro-terrorista. O RAF lutava pelo socialismo em um contexto de guerra-fria, onde, mesmo com stalinismo e tudo, a revolução parecia estar às portas, aparentemente referendando a inevitabilidade comunista da qual Marx falava no Manifesto e não só nele. Suas táticas eram brutais e talvez até espetaculares, mas a determinação na luta pela liberdade os diferenciava de qualquer outro grupo guerrilheiro conhecido, pois lutavam coletivamente pela libertação individual. Também não aderiram ao messianismo das vanguardas proletárias que lutavam para libertar a classe em-si alienada, mas adentravam no aparato estatal e davam continuidade a estrutura de privilégios e desigualdade. O RAF lutou obstinadamente até o ano de 1992, quando, sem lastro de utopia devido ao fim do socialismo real, decidiram que o grupo não mais tinha razão de ser, pediram anistia ao Estado burguês em nome da deposição das armas e foram cada um cumprir o seu destino.
Fiquei pensando no processo como um todo: a alienação, a consciência, o desespero, a tática e o ceticismo. Lembrei-me de outra palavra de ordem do RAF, que parece ser uma atualização existencialista do "Proletários de todo o mundo, uni-vos": "Que todos os desesperados se reúnam! Aqui termina o desespero e começa a tática!" A tática, contudo, resultou em nada (ou pouco). Enfim, encontrei abrigo no Fernando Pessoa (Álvaro de Campos, pra ser mais exato): "Estou cansado, pois a certa altura a gente tem que estar cansado!". Parece que o processo se completou também para mim. Tá na hora do eterno retorno!

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