8.3.06

Santíssima Trindade

O ser humano é divido em três partes: executor, ator e criador.
Executor é aquilo que somos no mundo, o que fazemos cotidianamente, nossa identidade adquirida pela nossa própria história, nossa própria tradição. Até certo ponto somos o nosso trabalho, nosso emprego. Os desempregados são a identidade do não-emprego involuntário. Os vagabundos (ah, como os admiro) são a identidade do não-trabalho. Também somos aquilo que fazemos além do trabalho: nosso dormir cotidiano, as atividades fisiológicas básicas, o sexo, assistitir tv, conversar, beber com os amigos.
Ator é aquilo que somos para o mundo, a máscara que nos impomos. Somos, para aqueles com quem convivemos, as expressões e impressões mais ou menos controladas que queremos que os outros vejam. As primeiras máscaras nós escolhemos mais livremente, levemente induzidos pela nossa socialização primária, mas depois as máscaras grudam na cara, como diz o Fernando Pessoa. Com o tempo não somos capazes de dizer a nós mesmos que nosso Ator não coincide com nosso Executor. Mas no fundo sabemos disso, apenas não admitimos o auto-debate a respeito assim como a Igreja não ousa questionar seus dogmas.
Criador é aquilo que somos meta-mundo, os sonhos que sonhamos e na maioria das vezes não realizamos. Mas isso não significa uma concepção pessimista do Criador, apenas somos muito maiores que a realidade e esta não consegue abarcar todos os nossos sonhos. Quando pequeno sonhava em ser motorista de ônibus e até hoje meus irmãos riem de mim ao lembrarem disso. Mas o fato é que meu sonho então prescindia do dever de "ser alguém na vida". Eu sonhava em ser motorista de ônibus porque tinha um ônibus de brinquedo dado por meu pai, brinquedo o qual eu adorava. Queria dirigi-lo de verdade um dia... Não me importava se a sociedade exigia de mim um médico, advogado, ator da Globo ou político corrupto. Não! Eu queria era ser motorista de ônibus, do meu ônibus dado por meu pai...
Não importa se não realizamos nossos sonhos. No fim, eles são nossa redenção.

2 comentários:

Anônimo disse...

tres coisas>
1) como guy debord eh chato, afe. peguei um livro dele, nao entendi nada e achei um saco. mas de vc eu gosto.
2) bom texto esse, viu.
3) muda o nome desse blog. que negocio dificil de escrever. fiquei meia hora tentando.

viu o filme? ra. suma nao.

Anônimo disse...

Sou eu bola de neve!!!