9.3.06

O fim da inocência


Eis que nasceu há pouco tempo o bebê que levou o mundo a atingir o número exato (não há engano... o número é exato!) de 6.500.000.000 de parasitas humanos na superfície terrestre.
Com tão inusitado fato me chegando aos ouvidos quando estava ocupado coçando a região genital (não façam essa cara de "que baixaria!"... todos coçam suas regiões genitais), vi-me, de um repente, mergulhado involuntariamente em questionamentos existenciais. Afinal de contas, são 6.500.000.000 de pessoas... Quantas pessoas interessantes existem no mundo e que eu nunca saberei da existência? Quantos prováveis Marx, Nietzsche, Einstein morrerão analfabetos na África? Mas, quando sentia que me perderia nesses devaneios uma imagem me tocou... O bebê estava chupando bico! Tentei me lembrar de mim mesmo chupando bico, mas foi em vão. O máximo que consegui recordar foi da vez em que defequei nas calças na casa da minha avó.
O ser número 6.500.000.000 do mundo e já assim, derrotado, sem utopias, vencido pelo ceticismo. Este bebê, posso vos afirmar, já não acredita em mais nada: deus, cidadania, o mundo será melhor etc. Senti seu grito abafado de "não me venham com metafísicas!". Este pequenino ser, que nasceu ouvindo a história de que era nascido livre, que viveria em um mundo democrático, chegou a, piamente, acreditar nisto. Posso o imaginar em um dia de verão a se debater com os adesivos da fralda (sua mão não tem muita coordenação ainda), pois queria estar livre de manufaturas, livre das fraldas, queria simplesmente que um pouco de ventilação lhe chegasse no pequeno ânus suado. Não conseguiu tirar as fraldas. Mas sabia que havia uma instituição maior, mais poderosa e anterior a si mesmo que existia para lhe ajudar, para manter a democracia e garantir seus direitos. O Estado em seu estágio primeiro. Chorou por um bom tempo e em tom agudo como forma de reinvidicação frente a este aparato racional-legal. O Estado tentou lhe compreender: verificou as fraldas, mas estavam limpas; fome não era pois o bebê estava bem alimentado. O que poderia ser, então? Ah, imbecilidade do mundo inteiro! Será que não percebem que seres humanos são muito mais que suas necessidades fisiológicas? Tudo que o pequenino ser número 6.5000.000.000 do mundo queria era um pouco de ar na traseira! Mas o Estado não entendia sua linguagem. Não podia conceber que se reinvidicasse mais do que as necessidades fisiológicas. Não podia entender que ainda houvesse quem pudesse sonhar, por mais que fossem sonhos simples, como um pouco de ar na bunda em um dia de sol! A providência tomada pelo Estado foi fulminante: o bico! Cala-te, pequeno ser! Toma isto e dorme! Ali, naquele momento, o pequeno ser entendeu que só lhe restava tentar tirar o melhor proveito possível de sua ignóbil condição de dominado!

Um comentário:

Anônimo disse...

meu deus o.O

que texto é esse? =O
estou, literalmente, boquiaberta
você fez um paralelo entre o bebê e o povo.. e ficou DEMAIS!
qual é o nome da figura de linguagem que toma a parte pelo todo?
pois é
é a essa a palavra


maravilhoso.