17.7.06

O bicho - E o mendigo?

Tratamos de épocas históricas e de como homens-bichificados podem rebelar-se. Mas voltemos à temática do mendigo. Como ele pode rebelar-se? Ou seria mais pertinente a questão: quer, ele, rebelar-se? Sim, pois, de fato, o ato da rebeldia é sempre um luxo, ao qual um mendigo (e falo em mendigo enquanto arquétipo do não-vivo debordiano) não pode ceder. Antes do luxo vem a sobrevivência. Nesse sentido, a bichificação é uma arma inconsciente para a manutenção da vida. Em termos dos seres que podem se dar ao luxo da rebeldia, contudo, a bichificação é alienação de si mesmo, no sentido de remeter à outros (e esse outro poder ser as redes de poder e dominação da sociedade) a gerência da própria vida. Em um momento de hegemonia do princípio de mercado sobrepujando todas as demais sociabilidades, a forma mercadoria é fetichizada ao extremo e surge a sociedade do espetáculo (Debord) ou a economia política do Signo (Baudrillard). Nesse caso, a bichificação é não-vida. A sociedade passa a ter a liberdade (hedonismo, consumismo etc) enquanto princípio e a dominação (monopólios de mercado, indústria cultural etc) como regra. Enquanto isso, o mendigo mendiga.

2 comentários:

Antonio Rimaci disse...
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Antonio Rimaci disse...

é estranho como a não-vida, a vida do homem-bicho, lhe parece muito mais simples aos olhos do medingo. Vc quis, de fato, dizer que ele é quem sofre menos, por não ceder ao luxo da rebeldia?
Para mim, a bichificação, forçada como ela é para o medingo, é ainda mais cruel. A idéia de optar pelo mediocridade, ponto comum na nossa classe média, me parece menos dificil do que ter de sobreviver, antes de pensar. Afinal, enquanto o medingo medinga, ele sofre. As vezes um gole ou outro de "braquinha" pra esquecer. Enquanto a classe media senta em frente a tv no domingo, vê as video-cassetadas e se sente feliz. Isso sem querer entrar no mérito do potencial dessa classe média em mobilizar as mais baixas, já que isso é controverso...
enfim, entendo que a impossibilidade de escolha deve fazer um mal maior do que a opção pelo descaso, a tal contemplação passiva, e é obvio que vc tb deve concordar com isso.